sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

um fim de semana diferente

Lembrei-me de duas das pessoas que passaram ontem por mim na rua quando vinha a caminho de casa. Aquela mulher tão feia quando vista de longe, mas que quando se aproximou, deu para ver que afinal que era um homem. E aquele homem com um andar diferente que quando se aproximou, deu a perceber que afinal era uma mulher feia. E agora, de repente, apercebi-me que depois de um dia inteiro enfiada na cama com febre, tosse e ranho, estou com pior aspecto que eles os dois. Mas mesmo assim, calcei as botas e vesti o casaco para ir num saltinho ali à tasca à porta do prédio para comprar tabaco, depois de um episódio épico a revirar todas as malas, carteiras, bolsos de calças e casacos e a casa inteira à procura de moedas. Já poético foi o olhar de desdém que os bêbados da tasca me fizeram, só porque eu estava de botas, casaco e pijama por baixo, toda despenteada e com o nariz todo assado e a pagar o tabaco com mais moedas que o arrumar de carros ali do estacionamento do hospital faz numa semana de trabalho, como quem diz “a juventude estraga-se na droga”, enquanto enfiavam mais um copo de bagaço para o bucho. “É só uma sexta-feira à noite diferente”, pensei eu enquanto saía da tasca de olhos pregados no chão, subi as escadas para casa, sentei-me na cozinha a fumar o tão desejado cigarro e quase morri com os pulmões a saírem pela boca com o ataque de tosse que se seguiu.
Caracóis-L