quinta-feira, 17 de novembro de 2011

se contares eu também conto....

Numa segunda feira de um mês qualquer: ele de bata branca, entra no elevador para começar o turno no serviço. Ela, também de bata branca, já está dentro do elevador pelo mesmo motivo. Por segundos cruzam o olhar, mas de imediato ambos fixam-no no chão do elevador. Ela ainda mexe um dos pés, como se estivesse a apagar um cigarro imaginário. Ele pega no telemóvel e carrega aleatoriamente nas teclas. Ela, como sempre, sai dois pisos antes de ele sair. Antes que a porta do elevador se feche, ela ainda olha para trás. Dentro do elevador, ele, já sem o telemóvel na mão e sem nunca mudar a expressão facial, olha-a nos olhos até a porta se fechar.

Noutro dia útil qualquer: a situação repete-se, desta vez apenas durante 4 segundos, enquanto se cruzavam no corredor da entrada do hospital.

Sábado passado: pela 47ª vez este ano, os dois, sem batas brancas, dançam (muito) alcoolizados num bar perdido no Cais do Sodré, sabendo da presença um do outro, sem se olharem uma única vez de frente e sem fingirem que apagam cigarros imaginários dentro de um elevador ou que escrevem mensagens fictícias no telemóvel.

Há 15 minutos: os dois, de bata branca, cruzam-se de novo no hospital. Os olhares cruzam-se por segundos e ele olha rapidamente para o chão. Ela também, até entrar no gabinete, fechar a porta atrás de si e esboçar um breve sorriso cúmplice consigo própria.


Já em cena:
“Sei que sabes o que eu fiz no sábado passado”
A decorrer num qualquer hospital perto de si.

Caracóis-L

2 comentários:

Ana FVP disse...

É algo que não me espanta nada que tenha acontecido contigo! Hahahahaha

caracóis disse...

Oh!... ;)