segunda-feira, 30 de abril de 2012

L-zinha, a espalha-magia

Como qualquer pessoa normal que se desloca para um congresso noutra cidade, saio de casa de mala feita e portátil debaixo do braço. Como anormal que sou, lembro-me a meio do caminho que, apesar de ir armadilhada com dois vestidos, dois pares de sapatos, estojo completo de maquilhagem, dois produtos diferentes para o cabelo, pinça e corta-unhas, para uma estadia de dia e meio, me tinha esquecido da escova e pasta de dentes, obrigando os meus companheiros de viagem a fazer uma paragem numa superfície comercial na cidade de destino. Depois de jantar e já no quarto do hotel, com os dentinhos lavados com a minha escova nova, decido ligar o portátil e vestir o pijama para fazer os últimos ensaios da apresentação do dia seguinte. Abro a mala e verifico que a minha anormalidade tem a capacidade de me surpreender a cada dia que passa: não consta pijama na mala. Três puxões de cabelo e cinco palavrões depois, rendo-me à minha insanidade mental, ligo o ar condicionado do quarto e ensaio em roupa interior em frente ao espelho. O antigo “núticias” da SIC radical passou a fazer muito mais sentido, tudo o que se diz ganha magia quando há mamas e renda pelo meio. Os nervos da apresentação, apesar do espectáculo por mim auto-proporcionado, ganham vida e a vontade de fumar um cigarro apodera-se de mim. Entre vestir outra vez o vestido e arriscar fumar um cigarro à janela e ser apanhada, ganha a segunda hipótese. Feita junkie, numa janela com travão que só abre o suficiente para pôr uma cabeça e um braço do lado de fora, fumo o cigarro à pressa. Mas assim que me volto, reparo num detector de fumo do tamanho de uma abóbora no tecto, e num acesso de pânico desato aos saltos a abanar as cortinas para mandar o fumo para a rua pela abertura de 20cm da janela. E reparo em 6 ou 7 pessoas no outro lado da rua a olhar para a minha janela como se estivessem a ver um OVNI. E então lembro-me que tenho as luzes acesas. E então lembro-me que estou em roupa interior. E então constato que a minha demência acabou de atingir níveis épicos. No dia seguinte acordo e, depois de controlar a diarreia provocada pelos nervos, reparo que me tinha esquecido de levar meias. Adoro-me.
Caracóis-L